20.12.05

calça cáqui

É impressionante o quanto o meio simplesmente interfere na formação das pessoas. E quando somos crianças, a educação recebida pelos nossos pais, nos transformam por completo. Mas não é só isso: O fator personalidade é gritante, porque senão todos os irmãos seriam idênticos.

Eu tenho certeza que eu só sou o que eu sou hoje por pura e simples culpa dos meus pais. Eu tenho muita sorte de ser filha de quem eu sou. Meu pai é a pessoa mais inteligente que eu conheço. Meu pai é o melhor jornalista político que esse estado já teve. E minha mãe, por outro lado, sempre foi o tipo de mulher forte.

Meus pais nunca deixaram meus irmãos e eu acreditarmos em Papai Noel, Coelho da Páscoa, ou coisa que o valha. Desde que eu me entendo por gente eles sempre fizeram questão de nos contar a verdade, e sempre nos contaram que Papai Noel era eles que trabalhavam e compravam os nossos presentes.

Então, nas festas de Natal em família, eu só sentia pena das minhas priminhas por serem tão enganadas assim pelos pais. Ficava na minha e não estragava o Natal de ninguém. Mas no fundo eu me sentia tão superior por saber a verdade e não ser uma idiota.

Com Deus aconteceu à mesma coisa. Meu pai ateu, e minha mãe crente em Deus, mas nunca seguidora de qualquer que fosse a religião. Meus pais sempre acreditaram que se um dia nós quiséssemos nos encontraríamos em alguma doutrina. Foi o que aconteceu com os meus irmãos (um crente o outro daimista), não foi o que aconteceu comigo.

A minha relação com Deus sempre foi igual à minha relação com o bom velhinho. Acho que Deus foi uma instituição criada para levar conforto, só que ao invés de ser uma vez por ano - igual ao papai noel - é sempre que o crente desejar. E para falar a verdade, eu ainda conservo aquele sentimento de superioridade de saber a verdade, e as outras pessoas não.

Mas não é porque não existiram dogmas na minha infância, que eu não tenho imaginação. Muito pelo contrário. Meu pai desde que eu aprendi a ler sempre me empurrou livros à goela a baixo. Minha mãe quando eu era novinha leu a coleção do Monteiro Lobato todinha para mim. Quando meu pai e minha mãe se divorciaram, eu herdei a maioria dos livros dele. Até os 13 anos eu era uma verdadeira autistinha. Minha imaginação e a minha memória são as coisas que eu mais gosto em mim.

Até hoje eu adoro contos de fadas - aliás, estou lendo As crônicas de Nárnia inteira. Até hoje eu sei ver fantasia em tudo. Sei ter mundos paralelos e escrever um monte de coisa que eu não mostro para ninguém. Sei ver graça atrás de qualquer coisa, e em qualquer livro infantil. Sou capaz de chorar no Menino Maluquinho 2 e adoro brinquedos coloridos.

E as minhas primas? Bom foi frustrante descobrir que Papai noel não existia. E acho que elas perderam a capacidade de imaginar. Todas - e eu não estou brincando - fizeram plásticas, colocaram silicone, pintaram o cabelo de loiro. TODAS morrem de medo de ficar para titia e namoram há anos com seus namorados sem graça, que usam calça cáqui com blusa social e sapatênis. E eu prefiro perder um braço que namorar alguém que use sapatênis
Todas almoçam com a sogra e depois falam mal da comida; todas vão às lojas americanas olhar preço de louça e nunca olham os brinquedos.

Todas rezam todos os dias para Deus não as deixaram solteiras. Todas são pessoas vazias, fracas e sem um pingo de imaginação. E não pode existir nada mais triste no mundo que alguém que não tem imaginação. Graças à mamy and dad eu fui salva. Obrigada.

Um comentário:

  1. Cada vez é mais indie acreditar em Deus. Quando toda a gente deixar de acreditar n'Ele, ir à igreja vai virar moda :P Feliz Natal, God Bless.

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