Ontem foi um dia histórico para a sociedade brasileira não só porque a Record teve o triplo de audiência do que a Globo, mas também porque a sociedade brasileira regrediu trinta anos: um passo para frente, três para trás. Não vou falar sobre o lado positivo de que parece que realmente começará a existir concorrência real na mídia brasileira. Globo é um lixo, Record idem. Globo sendo desmoralizada a que preço?
O final de A Fazenda me deixou completamente triste, não porque eu estava torcendo pela Danni Carlos ou coisa que o valha. Confesso que pouco vi desse programa. Uma cópia de Casa dos Artistas com “artistas” mais decadente – tem como? – ainda. Querendo ou não, entretanto, Dado Dolabella era o mais conhecido. Fez novelas na Globo e estampou manchetes de jornais e sites de fofocas por ser considerado um galinha bad boy. Eu realmente achava que, apesar de ele ser o mais conhecido, duraria pouco. Não foi o caso. 83% de milhares de pessoas o legitimou – e todas suas atitudes públicas – quando lhe deram o prêmio de um milhão de reais. Agora eu pergunto: em um país em que a cada minuto 4 mulheres são agredidas fisicamente o que pensar da vitória de Dado Dolabella?
Muita gente vai dizer que ele teve os motivos para agredir a Luana Piovani e que não cabe ninguém julgar uma briga entre casais. Pouca gente sabe que ele quebrou os dois pulsos de uma senhora de 65 anos que tentou proteger Luana. A imagem de antipática de Piovani muito atrapalhou o reconhecimento da coragem que ela teve em denunciar e processar seu agressor que, até o momento, era seu noivo.
Enquadrado na lei Maria da Penha o que Dado conseguiu não foi a desmoralização pública perante todas as mulheres que ofendeu quando agrediu outra, mas um convite para participar de um novo programa de televisão em que concorreria a um prêmio milionário.
A mídia deveria ser usada a favor da sociedade, mas o que faz e o que vem fazendo há tempos é legitimar uma violência que tanto causa sofrimento não só às mulheres agredidas como a todos que com elas têm qualquer tipo de relação.
Quem agride mulheres não é só nervosinho, não está resolvendo um probleminha no relacionamento, não tem gênio forte. Quem pratica violência doméstica é um criminoso e deve ser tratado como tal. Deve responder perante a justiça e principalmente diante da sociedade. Quem bate em mulher deveria ser preso e não ganhar um milhão.
Agora vocês me perguntam: mas o que eu tenho a ver com isso se não apanho e nem conheço quem bate. Será? Será mesmo? Muita gente convive com espancadores de mulheres no dia-a-dia sem saber, ou até sabem, mas acham que “nem é tanto assim” será? Quantas mulheres precisarão ter a coragem da Piovani e denunciar seus agressores em um ambiente que deveria não ser violento? Porque obviamente quem bate é pobre, preto, alcoólatra está desempregado e mora na periferia. Será? Será mesmo?
O que posso fazer como cidadã e mulher e nunca mais ver a Record e continuar lutando pelo que eu acredito. Mas tenham a certeza que cada um que discou para que Dado Dolabella ganhasse A Fazenda tem culpa nos pulsos quebrados dessa senhora. Tem culpa em cada agressão, mutilação, estupro, tortura mental, mortes que as mulheres sofrem todos os dias.
Pelo menos nesse programa todos podem conhecer o Carlinhos e perceber que nem todo mundo que nasce pobre necessariamente vira bandido, assim como nem todos quem têm condições e educação não deixam de ser tornar criminosos.
Demorei 22 minutos para escrever esse texto. 88 mulheres foram agredidas.
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