melhor análise que eu vi até agora sobre o caso éloa (who?) foi nesse blog aqui. blog esse que eu estou linkada não sei o porquê. mas adorei e entrou na lista aí do lado. que ganhou o link da fernada também.
Não devo ser o único que vê ironia entre o passado do pai da pobre menina do seqüestro de Santo André e o triste destino de sua filha. Não vou massagear o lombo da redundância com ponderações sobre o carma dos outros, mas não consigo deixar de esboçar surpresa com essa peculiar amostra da teoria do caos. Vejam só do que é feito o tortouso percurso da vida neste caso: ex-PM participa de grupo de extermínio em seu estado. Entre suas vítimas -- a menos citada nos noticiários -- encontra-se uma ex-esposa. Possível crime passional. Vendo sua lista de pendências com a Justiça aumentando, ele faz o que qualquer nordestino brincando de jagunço em sua terra natal faria: brincar de retirante e se mudar para São Paulo, esperando com isso fugir de seu passado. Lá, cria sua família como um cidadão comum, até que um ex-namorado de sua filha a mantém refém e a mata depois de mais de cem horas de cárcere privado, por motivos que se aproximam dos que ele mesmo teve pra matar no passado. Pra você ver: bastou uma meia dúzia de gente da imprensa, doida pra vender jornais, fazer pão e circo do triste fim da menina, para as autoridades perceberem a inesperada coincidência. Pois é, cabo Everaldo, Deus adora dar sustos. Vai fazer falta os tempos em que os retirantes apenas trabalhavam em garagens paulistanas, sem fazer seus semelhantes de reféns. Sim, todos os envolvidos na tragédia têm origens nordestinas (a região mais machista, paternalista e coronelista do país). Gente com a esperança tentada de várias formas que acabam parando numa metrópole impiedosa que acaba atuando como pós-graduação de surtos psicóticos. Alguém precisa avisar a essa gente que São Paulo jamais foi terra de oportunidades para retirante algum. No máximo, serve como celeiro de foragidos, como o ex-cabo nos mostrou. Nem Linha direta faria melhor. Que sociedade é essa que precisa de requintes de crueldade pra se lembrar de se perguntar porquê?
Os mais sensibilizados poderiam afirmar ser isso apenas um caso isolado de tragédia mobilizada por adolescentes sucumbindo às dúvidas ao amor. Mas não é. O Brasil é um país machista. Crescemos aprendendo a nunca aceitar não de uma mulher (os adolescentes americanos viram franco-atiradores por falta de aceitação social; os nossos, por orgulho caricato). Prova palpável disso é que, após o trágico desfecho desse seqüestro, pelo menos outros dois casos semelhantes ocorreram país afora, alguns dias depois. As furiosas conseqüências do ciúme masculino não são novidade, mas o é legitimarmos isso, como ficou evidenciado de forma implícita pela atuação da polícia paulista. Lindemberg não foi visto como um crimimoso na ocasião, mas apenas como um jovem que não sabia lidar com a rejeição, que havia falhado em lidar com sua mulher. Temos um estigma de que o amor nas mulheres é condicionado. De que os sentimentos delas não passam de um mero condicionamento. De que quem falha ao obter o amor delas deve fazer de tudo para limpar sua honra. Essa ideologia de boteco precisa acabar, sob pena de esse tipo de incidente continuar a ser freqüente. Novelas com mulheres personagens que gostam de apanhar, que cedem a chantagens emocionais de seus maridos e que sempre perdoam as puladas de cerca deles em nada ajudam nisso. Só reforçam um perigoso estigma de violência. A vida não é uma peça rodrigueana, e isso precisa ser transmitido a nossos jovens desde cedo. Antes de educação sexual, precisamos dar educação emocional. Ensinar que mulheres não são causa, e sim efeito de nossas vidas. Nossas escolas, definitivamente, não são da vida...
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