no time for losers

acabo de apresentar um seminário sobre interacionismo simbólico, e a parte que me coube foi um texto do Goffman intitulado Representações. nesse texto o autor faz uma analogia da realidade social com uma peça de teatro, ou seja, os indivíduos são nada mais que atores representando um papel.

muita gente da minha sala achou isso um absurdo. balela mesmo. mas lendo esse texto eu simplesmente tive uma luz. uma verdadeira eureka. não que eu ache que toda sociabilidade humana seja dada dessa forma e que todas as pessoas são teatrais por natureza. longe disso. mas parando para pensar, existem pessoas, e a maioria delas se encontra na internet, que são totalmente teatrais.

aí eu paro e vejo as pessoas mais sem vida que eu conheço. todas elas vivem um vida de mentira, uma vida esboçada totalmente no como-eu-queria-ser, e não no como-eu-sou-de-verdade.

no orkut, por exemplo, não existe reduto maior de psudo-cultos, modelos, e pessoas descoladas. às vezes eu fico corada de tanta vergonha alheia que eu sinto. na verdade, essas pessoas que vivem de orkut se dividem em duas categorias: aquelas que querem ser descoladas mesmo, amigos da galera, baladeiro, coisa e tal.

na maioria das vezes são meninas que tiram fotos do pescoço para cima, são amigas de ocasião e seguem tendências. tudo que está na moda, tudo que é hype, lá estão elas. são pessoas ecléticas, sabem? tem 1000 amigos no orkut e um de verdade e, na maioria das vezes, adoram viver a vida alheia.

a outra categoria é a que eu mais gosto e a que eu tenho mais conhecimento de causa para falar, por que vivi bastante tempo, infelizmente, perto de pessoas assim: os pseudo-cultos . esse pessoal me diverte bastante, melhor que eles só os pseudos-anti-sociais. basicamente essas pessoas acham que são os seres humanos mais diferente da face da terra, que eles são ínicos, a verdadeira inscrição da originalidade. não há ninguém no mundo igual a eles.

seres excluídos, que vivem dentro de um bolha, habitada apenas por quem eles permitem. porque, sabem, essas pessoas não são amigas de qualquer um não. só pessoas que entendem a mente desses verdadeiros gênios é que são dignos de sua amizade (mesmo que os 1000 amigos deles no orkut desmintam isso, claro). eles são tão geniais, e tao excluídos que adoram se vangloriar que ficam em casa sàbado à noite. e esse fato nao se dá porque eles são uns losers sem amigos. é porque ele é um gênio e no sábado à noite tem que se reunir com seus poucos amigos gênios, para discutir suas genialidades.

essas pessoas fingem que lêem para ter um ar a mais de intelectualidade. mesmo que o autor predileto seja dan brown, ou algum filósofo foda que eles ouviram falar por cima na faculdade e cuja a única coisa que sabem sobre, tenham lido em um rodapé de página.

a maioria tem um fotoloser. mas não é para colocar foto da galera não, porque gênio não tem galera. gênio tem amigos escolhidos a dedo. o fotoloser deles tem uma proposta, um lance diferente. é um blog ilustrado. lá eles podem mostrar ao mundo toda sua inteligência e sagacidade, e ainda tendo imagens geniais. se eles vão falar sobre a realidade social da cidade em que vivem, colocam uma foto estilo sebastião salgado (meus deus, quanta originalidade, fico pasma). às vezes, a mente desses seres humanos é tão atormentada (de que gênio nao é?) que eles fazem uma mistura assim: uma garrafa de coca-cola, um teclado de computador e um predendor de roupas. surrealistas! nem salvador dali seria capaz de tamanha façanha.

o melhor de tudo é o gosto original. todos adoram cinema e se consideram cinéfilos de carteirinha, mas todos os filmes que viram na vida, são hollywoodianos. todos. até aqueles que eles se orgulham de gostar, tipo taxi driver, ou encontro e desencontros. para pagar de diferente, eles escolhem um filme que o mundo inteiro gosta para nao gostar e falar que é modinha, tipo amelie polain ou closer. e claro, todo, TODOS, sem exceção, acham o tarantino demais. o tarantino é deus. ninguém nunca revolucionou tanto a história da sétima arte.

nunca assistiram um filme do godard, vadim, ou coisa que o valha, se assistiram, dormiram. e pra finalizar, adoram falar mal de harry potter. harry potter não é literatura, é historia do bruxinho que faz mágica. nao é literatura. literatura é stephen king (heuieahuieaheauiheauiea).

e claro, como eles são as pessoas mais entendidas de cinema-música-literatura-arte-televisão-comportamento-dieta-moda-o-senhor-de-todas-as-coisas. falam mal de todo o mundo, menos claro, dos amigos escolhidos a dedo, mais conhecido como macacos de circo, gordas, vadias, e descerebradas. essas pessoas vestem tão bem essa personagem, que elas próprias acreditam que são especiais e diferentes. deve ser bom mesmo nao ter consciência da mediocridade e do loserismo em que se vive.

eu, infelizmente, não tive essa sorte.